domingo, 26 de outubro de 2014

O que eu quero


A cara do nosso governo.
Mas com as piores ideias.

Já cumpri minha obrigação eleitoral, hoje, indo até a seção. Também cumpri meu direito de votar para presidente da República.

Votei pela mudança, por não concordar com os rumos da economia, por não concordar com as mentiras, os encobrimentos, a falta de eficiência do governo – não porque eu tenho alguma fé no outro; só acredito, pelo que aconteceu nos últimos 12 anos, que este não vai fazer o que precisa ser feito. Ainda mais com a aprovação da população. Do mesmo jeito que ocorre em São Paulo.

Eleger a oposição, segundo o governo atual, é eleger as ideias de 12 anos atrás, com outras pessoas.

Reeleger o governo atual é votar nas mesmas ideias que estão aí há 12 anos, com as mesmas pessoas.

Reconheço os progressos que fizemos nos últimos anos, mas também reconheço os progressos e a importância do que aconteceu nos anos anteriores. Ao contrário do que grande parte dos situacionistas acredita, não considero que houve uma revolução no último governo e que, muito do que aconteceu agora na verdade dependeu das modificações anteriores. Se houve alguma revolução na vida do brasileiro, foi a derrubada da inflação. Nisso, sim, podemos considerar que o Brasil acordou diferente de um dia para outro.

E, ao contrário do que o governo federal quer nos fazer acreditar, também não considero que essas conquistas sejam tão frágeis e que eles são os paladinos protetores – são mudanças conquistadas pela Nação, e que são válidas exatamente por isso. Essas mudanças não deveriam depender da permanência de único partido no poder.

Não tenho dúvidas dos avanços nos direitos das minorias que ocorreram no período deste governo. Mas sei também que eles tiveram pouco ou nada a ver com a atitude do governo em si. Foi esse governo que vendeu a vaga da Comissão de Direitos Humanos da Câmara para o Feliciano, foi esse governo que disse que não faria propaganda de “opção sexual” ao vetar o kit anti-homofobia, foi esse governo que não se manifestou pro ou contra o aborto. E, caso a sociedade não mude nesses aspectos, o próximo governo vai ser igual – independente de quem for eleito. Na verdade, as novelas da Globo tem mais participação na conquista de direitos do que toda e qualquer mudança de governo, quando integram essas ditas minorias como protagonistas. Foi também o governo que se grudou naquilo que é de mais atrasado na política, mesmo tendo reclamando, criticado e condenado tudo isso no passado.

Não quero um governo que diga o que alguém pode ou não pode fazer com seu corpo. Mas também não quero um que diga o que eu posso e o que eu não posso pensar, um que não queira me dizer o que é certo e o que é errado.

Ou mesmo que um indivíduo não pode classificar algo como “certo” ou “errado”.

Quero um governo que, numa reeleição, possa se concentrar mais no que fez e menos nos defeitos dos outros candidatos. Um governo que não precise mentir sobre o que o outro candidato vai ou não vai fazer. Um governo que não precise se preocupar em censurar a manchete de uma revista, pois vai ter moral para que as pessoas saibam que a revista está mentindo ou não. Um governo que pregue a paz entre os militantes, e que respeite o contraditório.

É o que querem que você acredite estar escolhendo.
Quero um governo que tente unir o Brasil, e não o separar segundo sua raça, religião, estado social, região, opinião política, sexualidade ou quaisquer outros itens. Um que não trate os movimentos como massa de manobra – sua, quando favorável a ele, e dos inimigos, quando desfavoráveis.

Quero um governo que não tente enganar a população com a imposição de deveres e direitos. Um governo que possa ouvir os anseios da população, sem olhar para ela com desconfiança. Um governo que não se esqueça dos menos afortunados, mas que os trate como cidadãos iguais a todos, não como massa de votantes, enganando-os, ameaçando, tornando-os prisioneiros de seus planos. Um governo que tenha orgulho de ajudar as pessoas a não precisarem mais de seus planos sociais, e não bater no peito quando o número de famílias que necessitam dele aumenta a cada dia. Um governo que não saia com planos mirabolantes para importar novos médicos, mas que dê condição a que os brasileiros médicos sejam formados e queiram trabalhar aqui no nosso país.
Quero um governo que não fique com ideias fascistas de expulsar do país jornalistas que digam algo negativo. Um governo que não idolatre fascistas, e que coloque sua população acima de seu partido. Um governo que reconheça seus erros, e não tente escondê-los.
Quero um governo em que eu não tenha que me preocupar em elegê-lo e, logo depois, o mesmo sofrer um impeachment.
Um governo que não dependa de uma só pessoa.
Civilidade na eventual troca de governo também é uma boa ideia.


Quero um governo que não trate as pessoas como beneficiários, minorias, elites, contribuintes, trabalhadores, empresários, apoiadores, opositores, amigos, inimigos, eleitores. Quero um governo que trate a todos como cidadãos.

Não sei se um eventual novo governo do PSDB iria fazer isso.

Realmente não sei.

Sei, porém, que dar uma carta branca para o governo atual continuar a fazer tudo do jeito que está fazendo é algo que não passa pela minha cabeça
.
E também sei que, não importa quem seja eleito, provavelmente em 2 de janeiro estarei, como nos 20 últimos anos, fazendo oposição crítica a quem quer que esteja no governo.

No mais, daqui a pouco as urnas são fechadas, e acredito que antes das 21h já saibamos quem será presidente do Brasil nos próximos 4 anos.

Apesar da minha preferência pessoal pela mudança, creio que, quem quer que ganhe ou perca, vai depender de nossa atitude, a partir de amanhã, para fazer com que quem ganhe a eleição seja, verdadeiramente, o país.


David Araújo

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