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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Usando a "Reserva Técnica"

                Este texto não é tão longo e árido quanto o anterior, mas vai exigir um pouco de paciência e, principalmente, abstração e desapego de seus dogmas políticos.

O governo do PSDB, que administra o Estado há pelo menos 20 anos através de sucessivas eleições, já sabia da forte probabilidade de ocorrer essa seca. “Forte probabilidade” porque a meteorologia ainda não atingiu o status de previsibilidade que gostaríamos, mas era certo que, por causa de Los Niños e Las Niñas que nos castigam periodicamente, esta seca chegaria em algum momento. E “forte probabilidade” aliada ao “alto impacto” que a seca trará ao cidadão principalmente das classes mais baixas já acenderia o alarme de qualquer administrador digno deste título gritando “INVESTE NISSO!”
"Não pisca, filho."

E, como se sabe, o governo apostou contra isso, e a seca chegou com força. O PSDB poderia, quando viu a seca chegar, já ter alertado a população para que economizasse, mas preferiu esperar que a chuva caísse – ou pelo menos que a eleição passasse. Como as chuvas não vieram e as reservas caíram sem parar, depois de muito tempo sem tomar providências, o PSDB de São Paulo saiu-se com o uso de certa “Reserva Técnica” (um nome bonito para o volume morto) e fez obras emergenciais para alcançar esse fundo de represa. Nada de chuva, e já estamos indo para o “Volume Morto 2”. Isso num país em que uma das grandes riquezas é exatamente a hídrica.

Só isso já é o suficiente para criticar fortemente o PSDB de São Paulo, com toda a razão. E, mesmo assim, o eleitor paulista reelegeu o governador Geraldo Alckmin. Vai saber por quê.

Volume Morto, ops, reserva técnica.
Agora, imagine, eleitor do PSDB, que essa crise não tivesse acontecido por falta de planejamento, mas por uma bem arquitetada estratégia política: já era sabido desde o início do governo do PSDB que a população já sofria com a falta de água e que iria precisar cada vez mais, mas qualquer investimento no aumento da captação e/ou produção de água foi sumariamente proibido, com a desculpa que a qualidade da água não era de excelência. Ao chegar perto da eleição, o governo do PSDB, magicamente, teria tirado do chapéu um programa “Reserva Técnica Paulista” dizendo ser sensível ao problema da crise hídrica e, como não se poderia esperar por investimentos de longo prazo, esse projeto levaria água para quem não tem imediatamente – e ainda tenta faturar, eleitoralmente, com esse projeto. Só isso já seria motivo pra você (e para mim, também) nunca mais votar no PSDB.

E é aqui que vai ser necessária aquela abstração que eu disse ser necessária logo no início. Vou pedir que você troque “São Paulo, “PSDB” e “água” respectivamente por “Brasil”, “PT” e “médicos”:

@pelicano. http://www.pelicanocartum.net/.

Agora, imagine, eleitor do PT, que essa crise não tivesse acontecido por falta de planejamento, mas por uma bem arquitetada estratégia política: já era sabido desde o início do governo do PT que a população já sofria com a falta de médicos e que iria precisar cada vez mais, mas qualquer investimento no aumento da formação de médicos teria sido sumariamente proibido, com a desculpa que a qualidade dos médicos formados não era de excelência. Ao chegar perto da eleição, o governo do PT, magicamente, teria tirado do chapéu um programa “Mais Médicos” dizendo ser sensível ao problema da falta de médicos e, como não se poderia esperar por investimentos de longo prazo, esse projeto levaria médicos para quem não tem imediatamente – e ainda tenta faturar, eleitoralmente, com esse projeto. Só isso já seria motivo pra você (e para mim, também) nunca mais votar no PT.

"Como era mesmo? Menos com menos da mais?"
A diferença entre as duas situações é pequena, mas é importante. O governo do PSDB não investiu por não ter planejado para enfrentar – ou por ter apostado seu planejamento em que não haveria – a seca, mas também não tentou “ganhar eleitoralmente” com isso. O governo do PT através do deputado Arlindo Chinaglia  PROIBIU a criação de novos cursos de medicina – evitando desta maneira a formação de um número maior de médicos, aumentando o problema e vendendo uma solução emergencial e paliativa - além de ganhar eleitoralmente em cima disto com o programa “Mais Médicos”.

Isso num país com uma riqueza ainda mais valiosa: seu povo, precisando de mais educação e pronto a corresponder a esse chamado?

Então?

David Araújo
Para saber mais:


Para se divertir: Pelicano Cartum

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Por que os paulistas não votaram em Dilma e no PT no primeiro turno ou o fantasma do Ademar.


Ademar, Ademar, é mió e não faiz mar.

Pessoas, esse é um texto longo, árido e nitidamente contra o governo atual. Sou daqueles contra a continuidade e que enxergam mais males do que bens nele. Mas, pra tentar facilitar a vida de todo mundo – inclusive dos governistas empedernidos, aí vai um resumo:

1.   São Paulo é um pouco de cada pedaço do Brasil
2.   Dizer que paulista é preconceituoso é preconceito e generalização infantil
3.   O discurso de ódio de separação começou com o PT
4.   São Paulo já conhece o rouba mas faz.
5.   O governo Lula/Dilma me lembra o governo Maluf/Pitta, com uma reedição do Ademar de Barros.
6. Essa análise só vale pro primeiro turno. No segundo, tudo pode se reverter.

Este é o resumo. E agora vem a história.

Desde o fim do primeiro turno, tenho percebido um discurso de ódio crescente de muitos de meus conhecidos simplesmente porque São Paulo não elegeu o candidato do PT para governador– ou pior, colocou-o num sofrido 3º lugar —, além de colocar a candidata à reeleição em segundo. Não senti o mesmo discurso quanto aos cariocas, onde o candidato a governador pelo PT também amargou um sofrido 4º lugar. Talvez por que o que importava mesmo é a eleição para presidente.

Daí, vem um discurso engajado de que o eleitor paulista é “direitista, conservador, reacionário, preconceituoso e coxinha” (para dizer o mínimo) que, pelo nível dos comentários, tem tanto significado político quanto “feio, bobo, melequento, chato e coxinha” (nessa ordem) – ou seja, são utilizados mais para ofender e acuar do que para explicar ou definir uma posição ideológica. Normalmente, apenas repetem o que um ou outro formador de opinião (de quem a repete) disse, sem ao menos saber o que cada um destes termos significa.

Não que muitos dos eleitores paulistas não sejam exatamente assim (direitistas, conservadores, reacionários e coxinhas). Mas muitos eleitores mineiros, paranaenses, piauienses e acreanos também o são. Os paulistas não o são mais do que o resto do país. São Paulo é o maior estado do país em população, em produção de riquezas etc. e provavelmente em desigualdade; não considerar isso talvez leve as pessoas que não entendem São Paulo (ou que entendem, mas querem tornar válida alguma teoria) a achar que há preconceito institucionalizado no Estado, ou um antipetismo, e que a gente se reúne toda quinta-feira no terraço Itália para tomar um pinot noir e cabernet sauvignon e falar mal do lulopetismo. E que a gente odeia pobre, nordestino e negro (não necessariamente nesta ordem).

O que esses críticos se esquecem (ou intencionalmente preferem esconder por desonestidade intelectual) é que este Estado foi construído por imigrantes, e que continua recebendo a todos. Difícil você encontrar um “paulista” de quatro costados por aqui.  Mesmo que você considere o paulista simplesmente como a pessoa que nasce em São Paulo (um pensamento nada contemporâneo) e não como o cidadão comum deste Estado, aquele que escolheu São Paulo (ou foi escolhido por ele). Nenhuma cidade brasileira representa mais a diversidade deste país do que nossa capital. Então, quando se generaliza que o paulista é “conservador, reacionário e preconceituoso”, você está dizendo que o brasileiro é “conservador, reacionário e preconceituoso”. E, obviamente, está incorrendo num preconceito sem tamanho.

Há pessoas idiotas aqui? Sim. E, como tudo em São Paulo, em números industriais. Mas essas pessoas, que ganharam voz na internet através das redes sociais (só amplificada pelos idiotas que denunciaram “o preconceito de São Paulo” e repetiram essa voz a exaustão), são minoria.

Sério.

O que importa é: essa história de preconceito generalizado dos paulistas em relação a qualquer coisa é de uma demência sem tamanho. Serve apenas para manter e justificar esse clima de “nós contra eles”. O Nordeste (a maior cidade nordestina do país é São Paulo, lembrem-se) está sendo usado pelo partido da situação com maestria: pega-se o preconceito de algumas pessoas que, muito a calhar, se identificam como paulistas, amplia-se ao máximo, e assim se causa uma reação do tipo “eles são nossos inimigos. Se eles votam no candidato A, então, o candidato A é nosso inimigo.” Ou o jeito mais comum, hoje em dia “os paulistas são da elite. Se eles votam no candidato A é porque o candidato A é da elite. A elite é nossa inimiga.” Ou “a mídia” ou “a direita” ou “os conservadores” ou “os preconceituosos” ou “os melequentos”. Ou qualquer coisa que sirva para divergir. E aqueles que são vítimas do preconceito de poucos acabam generalizando seu ódio para muitos. E preconceito gera preconceito.

Mesmo assim, resta analisar o porquê, no primeiro turno, o “paulista” resolveu eleger o Alckmin no primeiro turno e porque Dilma ficou em segundo lugar – não sei como vai ser o segundo turno, se a campanha do PT vai conseguir desidratar (trocadilho :) ) o Aécio ou não em São Paulo, mas vá lá minha análise.

Lembro de de São Paulo desde a década de 70, mas não velho o suficiente para me esquecer. E, se você não morou em São Paulo, não vai saber do que estou falando – ou, no máximo, vai entender em algum grau de comparação. São Paulo não tem preconceito contra o PT. Na história de São Paulo, o PT sempre foi bem votado. O PT nasceu nas lutas do ABC paulista (e, então, do seu direitismo, conservadorismo, reacionarismo e coxinhismo).

A questão não é o preconceito, é a história.

Quando são apresentados a toda corrupção no país nos dias de hoje, mesmo os situacionistas mais empedernidos sabem o que está acontecendo. E apresentam as justificativas para aceitar esta situação:

1.   Antes era pior. Se entrar a oposição, eles também vão roubar.
2.   O que importa é que o governo está garantindo a distribuição de renda, e olha pelos mais pobres. Os outros governos nunca fizeram isso. Depois que forem consolidadas as conquistas de diminuição da desigualdade, poderemos combater com mais afinco a corrupção.
3.   O país está cheio de obras e de emprego

Basicamente, os motivos para se votar na situação é que o governo atual olha pros pobres, e faz coisas, enquanto a oposição só rouba e governa para os ricos.

Ou seja, o governo rouba (ou deixa roubar), mas faz.

E os fins justificam os meios.

E São Paulo tem pelo menos duas experiências com isso: Ademar de Barros e Paulo Maluf.

Paulo Maluf é aliado do governo atual, e todo mundo conhece sua história. Inclusive do poste do Paulo Maluf, chamado Celso Pitta. Lembrando que o Pitta foi preso por corrupção.
Maluf e aliados. Desculpe: Maluf e o eixo.
Ademar de Barros atualmente é menos conhecido fora de São Paulo, mas foi interventor e governador do Estado e prefeito de São Paulo. Ele chegou a incorporar o lema “rouba, mas faz” a sua campanha.

Caixa 2? Os ademaristas tinham até jingle pra isso:

Quem não conhece?
Quem nunca ouviu falar?
Na famosa 'caixinha' do Adhemar!
Que deu livros, deu remédios, deu estrada!.
Caixinha abençoada!

Quando morreu em Paris, Ademar tinha em espécie aproximadamente U$2.500.0000. Na década de 60. Era dinheiro pra caramba. E quem nos informa disso é o WikiLeaks, pois esse dinheiro foi roubado no famoso caso do "roubo do cofre do Ademar". E, lendo sobre este caso, tem uma coincidência muito engraçada. Não vou fazer spoilers, tá lá no link.

O Caixa 2, a corrupção, tudo era plenamente justificável pelo bem que ele fazia aos mais pobres. E, por mais que por onde quer que se passe em São Paulo exista obra de Maluf e do Ademar, hoje São Paulo já sabe que não foi bem assim um governo para os pobres, e que o rouba mas faz, em longo prazo, acaba tirando daqueles que mais precisam.

Da mesma forma que a inflação. Ou a banalização da corrupção. 
No ombro de nosso gigante ditador predileto.

Não é um sentimento ou uma certeza facilmente identificável aqui. Mas é uma sensação de que isto já aconteceu.

Como tragédia e como farsa.

E eu sei que, daqui a alguns anos, o Brasil vai ter tanto orgulho do governo atual quanto São Paulo tem orgulho destas administrações Ademar/Maluf/Pitta. Obviamente, quem é ademarista, malufista e/ou petista, hoje, vai achar que eu estou completamente errado.

E, acredite, eu realmente preferia estar errado.

 David Araújo
Para saber mais:
O cofre do Ademar: clique aqui para saber mais. Sem Spoilers!
Ademar de Barros: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ademar_Pereira_de_Barros